O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é uma doença psiquiátrica grave e desafiadora que acomete cerca de 2% da população. Ela é caracterizada pela presença de pensamentos intrusivos que muitas vezes desencadeiam comportamentos compulsivos ritualizados que se manifestam de diferentes formas; causando aos pacientes muita ansiedade e sofrimento.
São muitas as formas que esta doença pode se manifestar, mas na maioria das vezes há um grande prejuízo da vida social, afetiva e profissional levando à situações extremas de incapacidade quase que completa.
Muito importante para o diagnóstico é que a capacidade crítica é mantida na maioria dos casos, ou seja, as pessoas acometidas percebem o caráter excessivo e irracional de seus atos e pensamentos, mas não conseguem controla-los.
Os sintomas do TOC são extremamente variados e para o diagnóstico é necessário a presença de obsessões (pensamentos, imagens e/ou impulsos) e/ou compulsões, que podem ser observáveis ou não (por exemplos rituais mentais, como rezar ou contar).
Os conteúdos mais comuns dos pensamentos obsessivos são os seguintes:
• agressividade: desejo de agredir alguém, por exemplo
• doenças, morte: tal pessoa irá adoecer ou morrer
• sujeira, contaminação: as preocupações exageradas com sujeira e contaminação são frequentes e atualmente o medo de COVID-19 se destaca
• sexualidade e religiosidade.
Já as compulsões mais frequentes são:
• verificação ou checagem: rituais de verificação em geral se associam a obsessões somáticas ou agressivas. Medo de, por imprudência, vir a causar uma catástrofe (por exemplo, checar se trancou a porta, desligou o fogo ou se os alimentos estão dentro da validade).
• higiene/limpeza: as compulsões de limpeza em geral associam-se a obsessões de sujeira ou contaminação, podendo gerar grande desgaste físico.
• ordenação, arranjo ou simetria: são inúmeras, tais como arrumação de roupas no varal, simetria de livros.
• contagem ou colecionamento: geralmente são mentais e se relacionam às de repetição.
Muitas vezes observamos o que chamamos de “pensamentos mágicos” que são aqueles que utilizam a forma subjetiva para atingir frutos objetivos, por exemplo: “se eu pensar tal coisa... vai acontecer outra coisa”.
Curso clínico
Geralmente os primeiros sintomas ocorrem na adolescência ou início da idade adulta, mas pode também acometer crianças.
A evolução é crônica, com períodos de melhora e piora, com distintos graus de gravidade e grande associação com outras doenças psiquiátricas como depressão e ansiedade.
Em geral com o passar dos anos os sintomas tendem a ficar menos intensos.
Tratamento
Os tratamentos variam de acordo com a gravidade dos sintomas, embora os dois primeiros citados a seguir devam ser prescritos para todos os pacientes.
• Intervenções Educacionais: informações sobre a doença para o paciente e seus familiares, acesso a material educativo etc.
• Abordagens Psicológicas: terapia cognitivo-comportamental.
• Abordagens Farmacológicas: uso de antidepressivos isolados ou combinados, associação com outras classes de medicamentos quando necessário.
• Neurocirurgia Psiquiátrica: para pacientes considerados graves (avaliados através de escalas específicas) e refratários, ou seja: aqueles que não responderam ao tratamento farmacológico adequado, tanto em termos do medicamento escolhido, como a dose atingida e o tempo utilizado, bem com à terapia cognitivo comportamental.
Cirurgias
- Estimulação Cerebral Profunda (ECP ou DBS): essa é uma técnica neurocirúrgica aberta e reversível em que eletrodos são implantados e emitem impulsos elétricos controlados em áreas cerebrais específicas que são envolvidas na sintomatologia do Transtorno Obsessivo Compulsivo. Sua taxa de resposta atinge cerca de 70%, porém tem a desvantagem de ser um procedimento invasivo e de relativa complexidade, necessitando ainda o paciente ter um marca-passo cerebral implantado, eletrodos em especifica área do cérebro e gerador elétrico conectado e implantado na parede do tórax.
- Radiofrequência: essa é uma técnica cirúrgica aberta e irreversível, onde os circuitos cerebrais são interrompidos através de lesao térmica por radiofrequência, de forma definitiva. Atualmente é uma técnica menos utilizada.
- Radiocirurgia com Gamma Knife: essa é uma outra técnica ablativa e definitiva onde são utilizadas inúmeras fontes de radiação que convergem para uma área previamente delimitada pelo equipe multidisciplinar consistida de neurocirurgião, psiquiatra e radioterapeuta. Esta área, já bem conhecida em fazer parte na fisiopatologia do Transtorno Obsessivo Compulsivo. É um procedimento bastante seguro, não invasivo, ambulatorial, sem necessidade de internação hospitalar com taxas de resposta semelhante ao da estimulação cerebral profunda. Como é um técnica ablativa, é irreversível e os resultados aparecem tardiamente, ao contrario das respostas imediatas que aparecem com a ECP-DBS e com a ablação com a radiofrequência.
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