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VACINAS E A PANDEMIA


Durante este ano aprendemos muito como tratar a infeção pelo Covid-19. Talvez a lição mais dramática foi a de não esperar a falta de ar para procurar assistência médica, erro crasso no início da pandemia que tirou a vida de entes queridos de famílias através do mundo. Recordamos a necessidade do uso da máscara, os cuidados de higiene básicos e distanciamento entre as pessoas, já conhecidos desde a Febre Espanhola de 1918-1919, em plena primeira guerra mundial (Figura 1). Pandemia que causou uma mortalidade de 50 a 100 milhões de pessoas em um ano mundialmente, imensamente maior que o atual número de mortes por Covid-19. Perdemos neste ano aproximadamente 1.900.000 pessoas para a pandemia [1]. Esta diferença em mortalidade reflete também o quanto aprendemos no tratamento da doença aguda com esteroides e anticoagulantes, bem como a existência de antibióticos, os quais não existiam no início do século passado.

Figura 1: Agora temos a vacina, estamos mais fortes que o senhor que vemos na figura tentando proteger sua família durante a Febre Espanhola em 1918. A figura demonstra claramente onde estávamos no início de 2020 quando a Pandemia Covid-19 assolou o mundo, 100 anos depois.


Os vírus que atacam o nosso sistema respiratório têm assolado a humanidade por milênios, apesar dos avanços da imunologia. A primeira vacina desenvolvida foi contra o sarampo em 1796 pelo inglês Edward Jenner. Trouxe o conceito de fortalecer o nosso sistema imunológico contra infecções [2]. Agora, pela primeira vez, o ser humano desenvolve uma vacina baseada na sintetização de genes em laboratório. Grande passo que a “Pandemia Covid-19” trouxe para a medicina. Conseguimos várias vacinas em menos de um ano. Devemos ficar orgulhosos deste feito, levava-se anos e anos para realização de vacinas, sempre dependentes de partes do patógeno, ou do próprio patógeno inativado.


QUAL VACINA E QUANDO TOMAR?


Em todo o mundo, 172 diferentes tipos de vacinas estão sendo estudadas. Destas, 60 já saíram da fase de estudos em laboratório e estão sendo testadas em humanos. Testes em humanos são laboriosos, caros e passam por três fases. Fases importantes para termos segurança que a vacina não é pior que a doença.


A Fase 1 avalia a curto prazo se a vacina não causa efeitos colaterais sérios. Trata-se de um estudo meticuloso em um pequeno e selecionado grupo de pessoas que se voluntariam ao risco desconhecido de testar a vacina, verdadeiros heróis altruístas em prol da humanidade.


A Fase 2 testa em um número maior de pessoas se realmente existe um efeito protetor da vacina testada na Fase 1, avaliando efeitos adversos em um número maior de indivíduos.


A Fase 3 testa em um número quase que populacional se a vacina é realmente protetiva e não causa efeitos deletérios em percentagem e intensidade inaceitáveis. Aí sim as agências protetoras da saúde da população, aqui no Brasil a ANVISA, aprovam a administração em massa da vacina. Devemos, portanto, submetermos às vacinas que completaram a Fase 3, seguras e que provaram a maior eficácia protetiva contra o Covid-19.


Vacinas Sendo Aplicadas no Mundo


A Rússia iniciou a vacinação do público em Moscou em 5 de dezembro, usando sua vacina Sputnik V, dita ter uma eficácia de 91,4%. Esta ainda está passando por testes clínicos de Fase 3. A China desenvolveu várias vacinas, porém todas sem informações dos resultados dos testes de Fase 3. A vacina desenvolvida pela Sinopharm com eficácia anunciada de 79,3% ainda está concluindo os testes clínicos de Fase 3, no entanto os Emirados Árabes Unidos já autorizaram o uso da vacina. Doses da vacina Sinopharm também já foram distribuídas para outros países, inclusive Argentina e Bolívia. Ela foi totalmente aprovada pelo governo chinês para uso na população, apesar de não termos os resultados da Fase 3. Várias vacinas chinesas receberam autorizações de emergência para os trabalhadores chineses essenciais em julho de 2020, contudo os chineses ainda não revelaram os dados de ensaios clínicos de Fase 3.


As únicas vacinas que concluíram os resultados de Fase 3 são as da Pfizer-BioNTech e a Moderna, desenvolvidas em colaboração entre a Inglaterra e os EUA. Eficácias de 95% e 94.1%, respectivamente. Estes dados já avaliados pelo “Food and Drug Administration” (FDA) dos EUA serão publicados agora no início de 2021. Com o conhecimento destes dados, conseguiram que as agências de saúde dos EUA, Reino Unido e a maioria dos países europeus aceitassem a vacinação à nível de emergência na população. Em 8 de dezembro os esforços de vacinação iniciaram no Reino Unido com a vacina da Pfizer- BioNTech. Em 11 de dezembro os EUA iniciaram a vacinação com as da Pfizer-BioNTech e em 18 de dezembro com a da Moderna, a qual o Dr. Anthony Fauci, diretor do “Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas” americano, recebeu em 22 de dezembro, atestando sua confiança na vacina. Foram as únicas vacinas que atingiram proteção acima de 94% para aqueles que foram vacinados com uma segunda dose de reforço. Vários outros países europeus iniciaram a vacinação a partir de 26 de dezembro. No Reino Unido, Estados Unidos e na Europa, as primeiras vacinações foram administradas para idosos de alto risco e profissionais de saúde na linha de frente. A elegibilidade se expandirá seguindo o aumento da disponibilidade da vacina em cada país.


As mais recomendadas no momento são as Vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna


O ingrediente ativo destas vacinas é o RNA mensageiro (mRNA). Este da mensagem á célula que penetra para produzir a proteína da ponta que o Covid-19 usa para penetrar nas células humanas. O mRNA da vacina é sintético, não é extraído do Covid-19. O mRNA é envolto em uma nanopartícula lipídica. Estas suspensas em solução salina são injetadas no músculo. O mRNA é absorvido por células imunológicas que por sua vez produzem a proteína da ponta viral. Esta é reconhecida como estranha pelo sistema imunológico humano, sendo então atacada. O nosso organismo produz anticorpos, sendo as células B e células T ativadas. Assim a memória imunológica é estabelecida para lutar contra o vírus, sempre que o individuo entrar em contato com o Covid-19.


Ao redor do mundo outras vacinas continuam sob pesquisa, prometendo uma maior possibilidade de vacinação global. Para vencermos a Pandemia a produção em massa de vacinas, logística de entrega aos centros de saúde e vacinação serão críticas. Muitos países ainda não têm acesso a nenhuma vacina. A OMS está tentando ajudar os países menos desenvolvidos através do projeto “COVID-19 Vaccine Global Access Facility” (COVAX). Está tentando reunir fundos para apoiar a compra e distribuição de vacinas. Agora em dezembro, 92 países já são elegíveis para receber a vacina pelo projeto COVAX, prevendo-se a distribuição de 1,3 bilhões de doses da vacina em 2021, o suficiente para cobrir somente 20% da população dos países elegíveis.


Além das questões de produção e alocação, uma série de perguntas permanecem sobre o impacto das vacinas.


1. Embora a eficácia tenha sido demonstrada em ensaios clínicos de Fase 3 para duas vacinas, não está claro por quanto tempo a imunidade conferida pelas vacinas irá durar. Sugere-se o reforço anual.


2. Além disso, as vacinas foram amplamente testadas em adultos. Dados adicionais são necessários para avaliar sua segurança e eficácia em crianças.


3. E embora as vacinas tenham se mostrado eficazes em termos de prevenção da doença COVID-19, ainda não se sabe se os indivíduos vacinados podem transmitir a infecção para pessoas não vacinadas.


Como essas perguntas e outras serão avaliadas nos próximos meses e anos, o distanciamento social, o uso de máscaras e as medidas básicas de higiene continuam essenciais para conter a transmissão do COVID-19.


Precisamos da Vacina Agora?


Para responder esta pergunta, vamos comparar o que está acontecendo em relação a pandemia nos Hemisférios Norte e no Sul fazendo um paralelo entre o Brasil e os Estados Unidos (EUA). A figura abaixo mostra os dados nos dois países [2].

Comparando o histórico da Pandemia do Covid-19 nos dois países, sugere-se que proporcionalmente houve mais casos nos EUA. Isto levando-se em consideração que a população brasileira é aproximadamente um terço daquela dos EUA, 209 milhões versus 320 milhões de pessoas. Estes dois países podem ser comparados em termos de miscigenação da população, mas não em termos de clima. O Brasil tem a vantagem de ter recebido a Pandemia ainda no verão/outono e ter um clima menos favorável a sazonalidade da gripe. Conseguimos ter uma curva mais favorável para nosso sistema de saúde, conseguindo mitigar a curva. Agora nos últimos 3 meses vemos o início de uma segunda onda nos dois países, mais severa nos EUA. Felizmente a vacinação em massa inicia-se agora para termos um 2021 mais saudável. Esperamos que a “Agencia Nacional de Vigilância Sanitária” (ANVISA) aprove em breve a vacina mais efetiva e segura para a população brasileira.

 

Referências



Dr. Antônio De Salles e Dra. Alessandra Gorgulho, Diretores da NeuroSapines®



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